A incrível invasão dos aliens na Praia do Futuro


 Eu e  meu marido Eliezer  éramos parceiros de negócio e vendíamos sanduíches naturais na famosa Praia do Futuro. Não todos os dias, porque sou enfermeira em um hospital infantil, e ele é motorista de aplicativo, montávamos nossa pequena barraca e aproveitávamos o movimento intenso de turistas e moradores locais. Íamos com roupa apropriada para o banho de mar. O comércio nós proporcionava uma renda extra, ao mesmo tempo que contemplávamos a beleza do litoral e desfrutávamos das incomparáveis águas sempre mornas.


Entre os frequentadores da praia, havia uma moça chamada Bia, que passava muito tempo por ali. Ela era uma figura excêntrica e sempre tinha algo a dizer sobre as pessoas ao seu redor. No início, eram apenas comentários inocentes sobre roupas ou comportamentos estranhos que Bia observava naqueles que considerava feios.


Com o tempo, no entanto, Bia parecia estar se incomodando cada vez mais com a presença das pessoas que ela julgava serem "feias" na praia. Seus comentários se tornaram mais frequentes e cada vez mais desconectados da realidade. Um dia, enquanto preparávamos nossos sanduíches, Bia se aproximou de nós com um olhar intrigante. Ela começou a nos contar uma teoria inusitada: a orla da Praia do Futuro estava sendo tomada por extraterrestres disfarçados de seres humanos.


Eu e Eliezer  trocamos olhares confusos, sem saber exatamente como reagir àquelas palavras estranhas. Bia continuava a tecer suas teorias sobre como os extraterrestres estavam infiltrados entre os banhistas, estudando o comportamento humano e observando nosso mundo.


A cada dia, suas histórias se tornavam mais complexas e fantasiosas. Ela falava sobre as experiências que tinha tido com os supostos extraterrestres e como conseguia identificá-los pelo brilho estranho em seus olhos. Aos poucos, as pessoas começaram a evitar Bia, afastando-se de suas conversas surreais. Ela se isolava ainda mais, sentindo-se incompreendida e solitária em sua convicção sobre a presença alienígena.


Eu e Eliezer não sabíamos o que fazer. A presença constante de Bia e suas teorias cada vez mais delirantes tornavam a venda de nossos sanduíches um desafio, já que as pessoas evitavam a área perto de nossa barraca. No entanto, decidimos abordar a situação com delicadeza. Conversamos com Bia e, com um misto de compaixão e preocupação, sugerimos que ela poderia se beneficiar ao procurar ajuda profissional. Tentamos mostrar que suas ideias poderiam estar distorcidas e que um profissional poderia ajudá-la.

Depois de muitas tentativas frustradas de Bia em escapar, ela foi finalmente internada em um hospital psiquiátrico. Preocupada com seu bem-estar, decidi visitá-la e tentar ajudá-la a enfrentar sua visão distorcida da realidade. Ao chegar à ala psiquiátrica, fui conduzida até a sala onde Bia estava sendo mantida sobre cuidados constantes. Sua expressão era de desalento, seus olhos carregados de tristeza.


Sentando-me ao seu lado, segurei suas mãos e comecei a falar com suavidade. Expliquei que estava ali para ajudá-la a entender que sua teoria sobre extraterrestres na praia era uma brincadeira de mau gosto. Falei que entendia sua forma de ver o mundo, mas que as pessoas ao nosso redor eram pessoas reais, não alienígenas. Bia me fitou com uma mistura de incredulidade e desconfiança. Ela não acreditava que alguém pudesse compreender seu ponto de vista e oferecer uma explicação convincente. Sua mente ainda estava presa à ideia de que havia algo sombrio e misterioso nos banhistas.


Com paciência e empatia, continuei a conversa. Falei sobre as histórias e experiências que todos temos, as lutas e alegrias compartilhadas que humanizam cada pessoa naquela praia. Contei sobre minhas próprias vivências e como, muitas vezes, também somos confrontados com nossas percepções distorcidas da realidade. Aos poucos, o semblante de Bia começou a se suavizar. Seus olhos, antes cheios de desconfiança, agora mostravam uma sombra de esperança. Ela percebeu que havia encontrado alguém disposto a ouvi-la e a ajudá-la a encontrar o caminho de volta à realidade.


Juntos, elaboramos um plano para Bia. Conversamos sobre a importância de manter sua saúde mental em equilíbrio e como buscar a ajuda adequada através dos profissionais do hospital. Reforçamos que era essencial encarar a realidade com clareza e tentar dissipar as ilusões que ainda a atormentavam.

- Bia, minta. Diga que foi um surto que reconhece que eram apenas pessoas horrorosas e não monstros. Disse-lhe.

- Mas eram monstros sim. Você não acredita em mim?

- Acredito. Quero apenas que você minta. Falei com firmeza. 

Eu a visitei regularmente, acompanhando sua evolução e apoiando seus esforços para reconstruir sua vida. Com o tempo, Bia recuperou sua confiança e capacidade de discernir a realidade das ilusões. E fez o que eu disse: afirmou que os banhistas eram apenas pessoas medonhas. Hoje, Bia vive uma vida plena e saudável, repleta de relacionamentos genuínos e um senso de propósito. 

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