Os mortos vivos do Cemitério de Messejana


 

Isso me aconteceu no dia 31 de agosto de 2023. Era uma noite sombria de lua cheia quando decidi me aventurar pelos mistérios do bairro de Messejana, em Fortaleza. Ouvia-se boatos sobre um templo abandonado e amaldiçoado, conhecido como o Templo da Graça, localizado no cemitério municipal.

Intrigado pela atmosfera tétrica que envolvia o lugar, decidi investigar. Enquanto caminhava por entre as ruas estreitas, o silêncio sepulcral pairava no ar. Os poucos moradores que ainda se aventuravam pelas redondezas mantinham-se recolhidos em suas casas, evitando qualquer contato com a maldição que permeava a região.

 Os postes de luz piscavam intermitentemente, lançando sombras dançantes por todo o caminho. Finalmente, avistei a estrutura decadente do Templo da Graça surgindo imponentemente diante de mim. Suas paredes estavam cobertas de hera, dando a impressão de que a própria natureza havia abandonado aquele lugar.

 O portão de ferro rangia de maneira horripilante, como se alertasse sobre os segredos sinistros que se escondiam além. Com cuidado, adentrei o cemitério, sentindo o ar gélido tocar minha pele. O ambiente era sombrio e tomado pela escuridão, com apenas algumas frestas de luz da lua cheia que escapavam pelas janelas quebradas.

 A cada passo que dava, uma sensação de inquietação crescia dentro de mim, como se estivesse sendo observado por olhos invisíveis. No centro do templo, deparei-me com um círculo de gravuras estranhas e símbolos amaldiçoados. Ali, no ponto exato onde a energia sombria do lugar se concentrava, presenciei algo inacreditável acontecer. 

 Dos túmulos esquecidos que rodeavam o templo, mais de duzentos esqueletos surgiram repentinamente. Seus ossos antigos ganharam vida novamente, e suas peles pálidas apareceram como uma lembrança sinistra do que um dia foram. Suas órbitas vazias brilhavam com uma luz avermelhada, e um arrepio percorreu minha espinha ao perceber que estavam ali para se vingar. Como se os espíritos dos mortos finalmente tivessem encontrado uma maneira de escapar de seu confinamento eterno, marcharam em minha direção. Seus passos rítmicos ecoavam pela sala, intensificando a sensação de horror que me dominava.

Lembrei-me de Ezequiel e o vale dos Ossos Secos. Lembrei-me do forte exército de Israel renascido depois dos spas macabros de Auschwitz e Treblinka. Com a voz embargada pelo medo, ousadamente perguntei o motivo de sua ira. 

Um dos esqueletos adiantou-se, erguendo um dedo ossudo em minha direção. A voz que saiu de suas entranhas era estridente e cheia de um ódio incontrolável. Ele me informou que aqueles que amaldiçoaram o templo, profanando o local sagrado onde eles haviam encontrado a paz final, agora teriam que enfrentar a ira dos mortos. 

 Entendi então que eu, ingenuamente, tinha perturbado o descanso eterno desses espíritos atormentados. Minha presença ali os despertou e os libertou da prisão de seu repouso derradeiro. Naquela noite terrível, tive que testemunhar a fúria dos mortos enquanto eles se vingavam daqueles que ousaram ultrajar seu santuário. Gritos agonizantes ecoavam pelo templo, combinados com o som arrepiante dos ossos se quebrando e a visão macabra de sangue escorrendo pelos corpos reanimados. Desesperado, corri para fora do templo, deixando para trás o espetáculo aterrorizante que se desenrolava diante de meus olhos. 

Enquanto fugia pela escuridão da noite, percebi que meu julgamento inconsequente havia desencadeado uma vingança que não poderia ser contida. O exército de mortos vivos saíram em debandas para destruição de igrejas pentecostais de caça níqueis do entorno, subiram a colina da Paupina  e mataram os beneditinos promíscuos e libidinosos.

Desde então, evito adentrar o bairro de Messejana, temendo encontrar novamente o Templo da Graça e ter que lidar com as consequências aterrorizantes da minha imprudência. A vida me ensinou que existem segredos sombrios, melhor esquecidos, que devem permanecer enterrados para sempre. Mas tenho escutado que quem à noite aproxima-se pelo cemitério consegue ouvir a salmodia em cânticos gregorianos.

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