Telmo, o achado no crime e perdido na liberdade
Era na alta estação que sua performance mais se destacava. Telmo, que era um funcionário do aeroporto de Fortaleza, do setor de Achados e Perdidos, parecia possuir um talento especial para se aventurar em atividades ilícitas. Ele se enveredou pelo caminho dos furtos e golpes, mais especificamente no setor de bagagens, roubo e falsificação de carteira de identidade e passaporte e formação de quadrilha.
Com astúcia, Telmo encontrava meios de desviar objetos de valor das bagagens dos passageiros distraídos. Aliás, sua engrenagem de golpes era engenhosa, envolvendo até mesmo a cumplicidade de alguns colegas desonestos.
No entanto, a sorte abandonou Telmo quando ele foi finalmente desmascarado em uma trama que envolvia um pingente de diamante e uma senhora italiana que exerceu suas habilidades de detetive amadora e, claro, o sistema de câmaras de segurança. A polícia foi acionada, e assim teve seu destino traçado: a prisão. Na dosimetria, 12 anos e seis meses de reclusão.
Preso e privado da sua "liberdade" criativa, o condenado se viu num ambiente totalmente diferente do que estava acostumado. O ambiente prisional era bruto, cheio de personagens com histórias de vida nada convencionais. Mas Telmo, sendo um mestre da lábia, decidiu que precisava se adaptar rapidamente para sobreviver à nova realidade na prisão.
Utilizando seu charme e um senso de humor peculiar, Telmo conquistou rapidamente a simpatia dos outros presos. Suas histórias exageradas e piadas o tornaram uma figura bem-vista na prisão. Até mesmo os carcereiros admiravam sua habilidade em entreter e trazer algum alívio cômico para o ambiente tenso.
Telmo vivia em um limbo peculiar dentro das paredes da prisão. Após anos de aplicação de golpes no setor de Achados e Perdidos do aeroporto, um forte arrependimento tomou conta de sua consciência. Movido pela culpa, ele começou a colaborar com as autoridades, revelando detalhes dos seus crimes e ajudando na recuperação dos itens roubados.
Ao longo do tempo, sua conduta exemplar e colaborativa chamou a atenção dos responsáveis pelo sistema penitenciário. E foi chegado o dia. O defensor público fez o comunicado:
- Você pode ir para casa.
- Mas eu não tenho mais casa.
- Fique com um familiar.
- Não tenho onde ficar, durante a audiência para a provisória. Por isso, deixou que eu ficasse mais tempo aqui.
- Mas agora é definitivo. Você tem que deixar a prisão.
Telmo obteve benefícios progressivos, como redução de pena, regime semiaberto e até mesmo a possibilidade de saídas temporárias. Mas, para surpresa de todos, ele se recusava a aproveitar essas oportunidades.
Sem família e amigos fora das grades, Telmo encontrou na prisão uma espécie de acolhimento. Ali, ele construiu laços genuínos com os outros detentos e estabeleceu uma rotina que lhe fornecia segurança e apoio emocional. O cárcere se tornou seu mundo, onde ele sentia que havia encontrado redenção e aceitação.
No entanto, chegou o momento em que a justiça determinou o fim de sua pena e sua liberdade plena. A notícia trouxe sentimentos conflitantes para Telmo. Por um lado, ele ansiava por recuperar sua liberdade e ter a chance de recomeçar longe dos muros da prisão. Por outro, ele temia abandonar o único lar que conhecia nos últimos anos.
Com o coração apertado, Telmo deu seus passos hesitantes em direção à saída da prisão. A luz do sol ofuscou seus olhos acostumados à penumbra. Enquanto atravessava o portão, olhou para trás, sentindo gratidão por tudo o que a prisão lhe proporcionou, mas também uma esperança tímida de um futuro melhor.
Nossa história para aqui, porque o prisioneiro arrependido nunca mais foi visto. Por tanto relutar em sair da prisão, há quem diga que voltou a vida de crimes a fim de reingressar no sistema prisional. Há quem diga que a liberdade lhe atingiu como uma overdose. Afinal, o que fazer quando se é livre e não se possui laços e raízes?
É possível que, após tantos anos no sistema prisional, ele tenha enfrentado dificuldades para se readaptar à vida fora da prisão. A liberdade pode ser assustadora e desafiadora para alguém que se acostumou com a rotina e as relações construídas dentro dos muros.
É plausível que Telmo tenha buscado algum tipo de trabalho ou atividade dentro do âmbito social, como a costura das bolas de couro, atividade que chegou a exercer durante a reclusão.O fato é que solto, nunca mais foi achado é tido como verdadeiramente perdido.

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